De volta ao sonho americano

O meu primeiro retorno aos Estados Unidos depois de conhecer a terra dos livres e o lar dos bravos, começou com mais cara de pesadelo do que de sonho. Primeiro por culpa do próprio Brasil e do seu eterno amadorismo. Fiquei em torno de quatro horas no aeroporto internacional Galeão, no Rio de Janeiro (lembre-se: a mais turística cidade brasileira, ao menos aos olhos dos estrangeiros), sem conexão wi-fi e com uma única mísera lanchonete, daquelas que atende no clima “tem, mas acabou”.

Já irritada, na hora de embarcar revejo aquele americano estranhíssimo que estava no check-in. Um legítimo exemplar da categoria WASPP: branquelo, quase careca, meio gordo, desengonçado, vestido como o primo caipira do Pato Donald e com feições ligeiramente psicopatas. Peço a Deus que tal criatura não se sente ao meu lado. Mas, nessas horas, Deus não é brasileiro. Quando me acomodo na poltrona, o sujeito se apresenta e pede que eu lhe confira umas cotoveladas se ele por acaso roncar.

Como se não bastasse, percebo de imediato que a U.S. Airways não é nada parecida com a American Airlines. Nada de monitores individuais, apenas uma tela por classe e fones de ouvido a cinco dólares (e a tarifa nem foi tão mais barata). Tento ler alguma coisa, mas o pessoal da excursão para a Disney já grita como se tivesse avistado um Mickey gigante. Quando começa o filme sobre uma adolescente surfista que perde o braço devido ao ataque de um tubarão – mas, mesmo assim, recupera a força de vontade e continua surfando -, decido que é hora de dormir.

E durmo. Aos trancos e barrancos, espremida pela pança do branquelo caipira e com as pernas inchadas, mas durmo. E sonho com o sonho americano. Se ele ainda existir, de alguma forma, vamos nos encontrar em New Orleans. Acordo a tempo de ver o amanhecer sobre Charlotte, na Carolina do Norte. Falta ainda um vôo, um ou dois agentes da alfândega e uma inspeção no raio-X. Mas os corredores já são limpos, as placas efetivamente explicativas e os funcionários educados. De alguma forma, o sonho já (re)começou.

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