Do you know what it means?

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Para mim, que tento estudar os imaginários, há vezes em que essa construção quase inconsciente é a única explicação racional para as coisas inexplicáveis da vida. A minha adoração por New Orleans, por exemplo. Desde que me entendo por gente, esquinas musicais e enormes casas com sótãos estilosos ocupam minha mente. E a angústia, depois do Katrina, de pensar que nunca conheceria a cidade só podia parecer ridícula para uma menina do sul do Brasil, sem passaporte nem visto, com apenas uns discos da Mahalia Jackson e do Louis Armstrong na estante.

Mas, como disse a minha mãe, tudo se ajeita. E aconteceu de a minha estréia no universo acadêmico internacional se dar justamente na Crescent City. De repente, em meio à confusão de fim de semestre, eu caminhava na beira do rio Mississipi num entardecer de domingo. E ao mesmo tempo em que era tudo novidade – os beignets, os bondes, os boêmios -, andar por aquelas ruas de nomes afrancesados era como voltar à cidade natal.

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Talvez o voodoo explique, talvez seja um déja-vu de uma vida não passada. Mas é provável que seja mesmo algo da alçada de autores como Stuart Hall, Durand, Canclini ou Canevacci. Algo das imagens guardadas no fundo da alma, da identidade construída a partir desses pseudo-sonhos, ilusões de realidade. E, é claro, a gente tende a ver o que quer ver para confirmar o que já pensa. Então, aqueles sopros ritmados grudaram nos meus ouvidos como a umidade grudou nos meus cabelos.

Se eu fechar os olhos e bater de leve com os dedos no ar, ainda ouço os graves do Sr. Armstrong ao longe, naquela versão em que é acompanhado por Billie Holiday, a descrever as magnólias e a brisa do rio. Ainda vejo as ruas molhadas depois da terceira pancada de chuva do dia, as poças iluminadas pelos reflexos dos postes na Jackson Square. E, caminhando um pouco até a Royal Street, as senhoras nas sacadas com ornamentos de ferro elogiam meu vestido enquanto um senhor galante tira o chapéu e suspira: “Morning, maam! You’re a pretty lady.”.

É tudo um sonho, uma memória antiga, uma invenção do imaginário. Mas as novas lembranças se misturam agora aos desejos de infância para confirmar uma certeza: eu sempre soube o que significa ter saudade de New Orleans.

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