Onde eu estava

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Todo mundo está falando disso. Todo mundo está pensando nisso. Todo mundo lembra. E quem não lembra (nunca se sabe, as pessoas podem ter sensos de prioridade bem estranhos) já foi forçado a produzir algum tipo de memória devido à cobertura midiática incessante sobre os dez anos do 11 de setembro. Eu lembro naturalmente – e lembro quase todos os dias.

Naquela terça-feira de 2001 a internet não era nada ubíqua, muito menos em Santa Cruz do Sul. E o sistema educacional era, talvez, mais burro e fechado do que é hoje. Ninguém nos falou nada. Os alunos saíram ao meio-dia do Colégio Marista São Luís como se nada tivesse acontecido. Só vi as imagens do absurdo quando cheguei à lanchonete da esquina para pegar um sanduíche. Para mim, estava começando a terceira guerra mundial, mas ninguém dava muita bola para a tevezinha do bar.

Voltei para a sala do Grêmio Estudantil e, sob protesto dos meus colegas, consegui sintonizar a Rádio Gaúcha – o pessoal do ensino médio não era muito afeito a notícias. Aí comecei a entender a grandeza do evento. Estávamos organizando um evento do colégio, então eu ficaria até à noite por lá. Mas confesso que demorei mais do que o necessário para voltar para casa. Eu já sabia que, mesmo de uma forma muito inofensiva, eu me somava àqueles cujos sonhos foram destruídos junto com as torres.

Quando coloquei o pé em casa, minha mãe tinha todo o discurso pronto. O intercâmbio para os Estados Unidos, cujo pagamento começaria naquela semana, foi cancelado sem oportunidade para argumentação. Como lembrança fúnebre da morte dos meus planos, guardo ainda a edição de 12 de setembro de 2001 da Zero Hora. E, no dia 11 do ano seguinte, transformei uma crise de rinite em uma gripe bem convincente para faltar aula e passar o dia assistindo à CNN. Descullpe aí, mãe, mas se mais alguma coisa acontecesse, não ia ser uma chata aula de matemática a me impedir de saber.

Hoje sigo o mesmo ritual. Por motivos acadêmicos, estou dividindo o zapping entre a CNN e a Globonews. Mas duvido que, se não houvesse uma dissertação a fazer, eu faria diferente neste domingo. Já fui aos Estados Unidos, já vi com os próprios olhos a reconstrução do Ground Zero. A sensação de previsibilidade, no entanto, nunca se restituiu. O mundo mudou, eu mudei junto e espero, um dia, contribuir para a compreensão dessa condição (pós-moderna?) fragmentada, desorientada e apreensiva em que vivemos.

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